O presidente do ISCAL participou esta terça-feira, dia 22, no Fórum Mundial para a Cidadania e Educação, que está a decorrer na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa.
Pedro Pinheiro, que abordou a temática “Papel do Ensino Superior na promoção da responsabilidade social”, iniciou o seu discurso afirmando: “Não sou um fervoroso crente na responsabilidade social - e já vos explico porquê. Não sou um fervoroso crente no papel que o Ensino Superior tem tido na promoção desta responsabilidade social, mas sou, sem dúvida, um fervoroso crente no potencial que o Ensino Superior tem para alterar o paradigma que nós conhecemos”.
Para si, ao falar neste tema torna-se necessário responder a três questões base: o que é a responsabilidade social? Para que servem as Instituições de Ensino Superior (IES)? E qual o papel das IES na sociedade?
Ao abordar esta questão, o presidente do ISCAL apresentou-nos uma timeline para chegarmos até ao que é hoje “o conceito comumente aceite como sendo responsabilidade social”.
“Quando tentamos localizar o que é a responsabilidade social no tempo, quase todos os autores apontam para a década de 50 - a Era Moderna -, onde o foco era apontado para o empresário”, afirma.
Já na década de 60, Pedro Pinheiro diz que o foco continuava a ser no empresário, no entanto, começávamos a olhar para este conceito como gerador de benefícios a longo prazo.
“Na década de 70-80, começamos a deixar o foco no empresário e a focar-nos nas organizações. É uma abordagem mais abstrata daquilo que pode ser a responsabilidade social.”, diz. “Foi aqui, que na minha opinião, o conceito se começou a desvirtuar”, continua o orador.
Pedro Pinheiro diz que foi nesta altura que se começou a falar de medir a responsabilidade social e, a partir daí, começamos a tentar comparar o desempenho de uma entidade com a outra meramente de forma quantitativa, ou seja, começamos a largar a abordagem qualitativa, os seus inputs na sociedade.
Mais tarde, começamos a entrar em questões de natureza ética e começamos a preocupar-nos no impacto dos stakeholders, isto é, no impacto que a empresa tem num conjunto vasto de entidades que orbitam em seu torno.“Só se começou a falar de uma abordagem estratégica neste tema há 30 anos e a ter uma primeira abordagem do que é o desenvolvimento sustentável”, realça.
Foi no ano 2000, que Pedro Pinheiro diz ter-se perdido o rumo do que era a responsabilidade social. “Aqui começamos a falar do que é a cidadania empresarial, em reputação e começamos a utilizar o conceito como um meio para legitimar um conjunto de comportamentos. Começamos a relacioná-lo com todas as variáveis de negócio”.
No entanto, em 2010, entra o conceito de valor partilhado, onde deixamos de ter uma abordagem unidirecional e passamos a ter uma abordagem bidirecional da responsabilidade social.
“Sou um cético da evolução que o conceito fez e do distanciamento entre aquilo que era a genesis da responsabilidade social e daquilo que ela hoje represente. Hoje é uma variável de negócio como é uma campanha de marketing”, confessa-nos.
Quanto ao papel do Ensino Superior, o professor afirma que as IES são historicamente espaços de mudança no contexto onde se inserem. “Porque é que não se fala que uma das missões das IES tem de ser transformar a sociedade?”, questiona.
Pedro Pinheiro vai mais longe e afirma que “As IES têm de ser forçosamente espaços de inovação cultural e artística, onde se promove a partilha de conhecimento fundamental ou aplicado”.
Já quando falamos sobre a responsabilidade social das IES, temos, na sua perspetiva, de ter em conta certos aspetos como: Nas IES ter de existir uma abordagem estratégica, bem como, de perceberem que a sociedade é um stakeholder e de ter a capacidade de mudar a cultura dos docentes, por exemplo. Olhar para as IES não apenas como produtor de conhecimento.
Assim, o Presidente do ISCAL remata que este é hoje um tema em discussão, onde as IES têm de assumir a necessidade de mudar o paradigma e não olhar para a responsabilidade como um apêndice, mas como uma parte do todo. É importante perceber que “não é trabalharmos para mas trabalharmos com”.
“Existe mais do que uma necessidade de alterar o enquadramento do ensino superior porque o Ensino Superior mercantilizou-se. É hoje, em muitos casos, um negócio. Outro aspeto, é a forma como as IES são avaliadas em Portugal. A maioria da avaliação que se faz é quase exclusivamente do foro científico: Publica ou não e onde é que publica”, sublinha o orador. “Temos de repensar. Não podemos querer que as IES formem cidadãos responsáveis, promovam a transformação no seu seio, quando depois aquilo que lhes é exigido do ponto de vista de uma avaliação institucional nada tem a ver”.
Assim, Pedro Pinheiro remata que aspetos sociais como os direitos humanos e sustentabilidade, emprego, gestão de docentes, inclusão, ética e cultura no trabalho, voluntariado, transparência, proteção de dados e compreensão das necessidades dos estudantes representam aquilo que é a responsabilidade social nas IES. “Reduzir as IES apenas à charity está errado”, finaliza.
O Fórum Mundial para a Cidadania e Educação é um evento organizado pela Virtual Educa e do Instituto Nacional Eleitoral do México que conta com o apoio institucional do Ministério da Educação e que decorre durante dois dias – 22 e 23 de novembro.