Passar para o conteúdo principal

Banner

ISCAL Serviço

Umberto Eco, o exímio contador de estórias que brincava com as palavras

 

Com o aproximar do Verão, apetece-me sempre comprar aqueles livros que não tive tempo de ler durante o ano ou reler os que passaram pela minha mesa de cabeceira e que, por uma razão ou outra, deixaram uma marca indelével, mas que de repente saltam e abrem-se, desfolhando-se na minha mente e que me fazem viajar sem sair do conforto do sofá. 

Frase feita é verdade, mas que serve de mote para vos falar de Umberto Eco, Professor, homem de letras, escritor e exímio contador de estórias. Professor de Semiótica, que brincava com as palavras mesmo quando tratava assuntos sérios, como quando escreveu Como se faz uma tese em Ciência Sociais, mas não é desse livro que vos vou falar, apesar de ser divertido. 

Umberto Eco trata a cultura por tu. Sarcástico e divertido, nos seus Diários Mínimos, uma coletânea de divertidas paródias literárias, aponta os males que enfermam a sociedade. Num tempo em que o politicamente correto estava e está na moda, ele atreveu-se a ser incorreto. Ver a humanidade pelos olhos de extraterrestres num futuro distante, leva-nos a pensar quem são os nossos deuses? O futebol? O que leva as massas a dirigirem-se a um estádio em horda, numa espécie de romaria? Ou um diálogo entre “informáticos” babilónicos de há sete mil anos. E não nos podemos esquecer do que devemos fazer quando se viaja com um salmão, que deve chegar intacto e fresco ao seu destino. Tudo historietas que nos levam a pensar que o autor está a dizer-nos: divirtam-se! E divertimo-nos.

Mas a sua escrita é muito mais, o seu primeiro romance O Nome da Rosa, expressão usada na Idade Média para denotar o infinito poder das palavras, traz-nos a versão medieval de um Sherlock Holmes cuja missão é investigar a ocorrência de heresias num mosteiro beneditino, mas que a morte em circunstâncias no mínimo insólitas de sete monges em sete dias, altera o rumo da investigação, tudo escrito de forma irónica e repleta de mistérios e símbolos secretos. 

O mesmo se diga da sua obra mais conceituada O Pêndulo de Foucault, a masterpiece, que envolve teorias da conspiração, sociedades secretas e perseguições, o tesouro perdido dos Templários, o Santo Graal, escrito décadas antes do Código da Vinci, mas com muito mais mestria.

Uma última referência, que atesta a imaginação fértil de Umberto Eco, Baudolino, camponês cheio de imaginação e aldrabão, conquista o imperador Frederico Barbarroxa e torna-se seu filho adotivo. Acompanha o imperador numa viagem, a Quarta Cruzada, em que tudo o que é desconhecido é povoado de monstros fantásticos, seres sem cabeça, com olhos no meio do peito. Um livro onde os mitos se encontram e a utopia encontra terreno fértil. Baudolino, durante a viagem, vai fabulando e inventando, mas tudo o que imagina reflete a História, a título de exemplo, a mítica epístola do Prestes João, que prometia ao Ocidente um reino fabuloso, no longínquo Oriente, governado por um rei cristão, que abalou a fantasia de muitos viajantes, incluindo Marco Polo. É uma narrativa leve e hilariante, em que o absurdo é o normal, narrando acontecimentos históricos como aventuras picarescas.

Aqui vai a minha sugestão: Livros que falam de coisas sérias, mas que nos divertem, como pretendia o seu autor. Leiam e divirtam-se, como eu me diverti.