Quando a contabilidade é um tema fascinante para os leigos
Fascinante? - perguntarão alguns. É para eles que aconselho a leitura do livro de Jacob Soll, O Ajuste de Contas.
É um livro que nos revela o poder incrível da Contabilidade. Fugindo ao estereótipo dos “mastigadores de números”, Soll leva-nos numa viagem incrível onde a Contabilidade é protagonista principal, que encontra pelo caminho personagens não menos fascinantes, como os Médicis, Leonardo D’Avinci, Luís XIV e até o nosso Marquês de Pombal. Trata-se de uma narrativa, com laivos de dramatismo, que se debruça sobre política, ética, tentação, mas acima de tudo sobre o papel da Contabilidade nos destinos dos povos. Reis, imperadores, nações e empresas são escrutinados no uso que fizeram dela. Muitos cresceram e tornaram-se poderosos. Outros, devido a práticas duvidosas, soçobraram e tiveram destinos dramáticos. É verdade. Trata-se de uma história da Contabilidade, que remontando à Florença renascentista dos Médicis, nos revela aquele que é considerado o pai da Contabilidade moderna, Luca Pacioli e o seu método das partidas dobradas, que seria professor e, mais tarde, trabalharia em parceria com Leonardo D’Avinci, também ele matemático. Mas falamos da dependência de imperadores e de reis.
Augusto, na Antiga Roma, compreendia o uso da “contabilidade como ferramenta de gestão e legitimação” e vangloriava-se dos soldos pagos aos seus soldados, valores que foram encontrados inscritos em registos rudimentares contabilísticos. Luís XIV, em França, por influência do seu contabilista Jean-Baptiste Colbert, cedo compreendeu a necessidade de uma boa administração das contas, para além de ser usada como símbolo de poder. E que dizer de Portugal e do Marquês de Pombal? Para Jacob Soll, a criação do Erário Régio e a gestão das contas da Coroa, pelo método das partidas dobradas, foi “uma das reformas administrativas mais modernas e inovadoras de toda a Europa”, nem Colbert chegaria ao nível de Pombal.
O Ajuste de Contas é uma crónica da arte de fazer bem as contas, ou não, que levaram à ascensão de nações, quer fossem elas uma Holanda de cidades livres, ou uma Inglaterra a braços com a Revolução Industrial, ou à queda de outras, como a França de Luís XIV que após a morte do seu contabilista perdeu o controlo das finanças do Império.