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Dois livros de Bolso de Sandra Gonçalves

 

Há pessoas que conseguem ler nos transportes públicos, mesmo quando viajam de pé, nos bancos de espera por uma consulta médica, ou outro qualquer atendimento. Quaisquer cinco minutos são bons para ler. A minha filha é uma dessas pessoas. E como ela, tantos outros. E conseguem ler, em média, um livro por semana. Eu se conseguir ler um por mês fico muito satisfeita. Já li de tudo. Com a idade os gostos foram-se alterando. Agora estou a apostar em autores portugueses. Últimos livros lidos: dispensando apresentações, “Almoço de Domingo”, de José Luís Peixoto, de quem sou leitora fiel, “-hífen-“, de Patrícia Portela, da editora Caminho (vale muito a pena descobrir a Flandia), “Ensina-me a voar sobre os telhados”, de João Tordo, da Companhia das Letras e a iniciar a leitura de “Felicidade” do mesmo autor. Mas falar de livros que enchem os escaparates de todas as livrarias não acrescenta mais-valia a este pequeno espaço. Hoje venho falar-vos de dois livros de bolso (e para todos os bolsos) da jornalista Sandra Gonçalves. Professora universitária, doutorada em política internacional, frequentadora, tal como a minha filha, dos transportes públicos e cuja mala transporta sempre, entre tantas outras coisas que nós mulheres gostamos de carregar, um livro e um bloco de notas onde aponta o que vê (e provavelmente o que ouve, e o que lhe apetecer). É jornalista, bem sei. E no fim do dia, ou na hora, isso não posso precisar, resulta um pequeno conto do dia-a-dia, que é o dela, mas podia ser de qualquer um de nós. São dois pequenos livros, que cabem em malas cheias como a minha, ou como a dela, ou onde os quisermos trazer, que se leem e releem como se fosse sempre a primeira vez que o fazemos. Numa escrita absolutamente fascinante, o quotidiano de quem faz o mesmo percurso diariamente, mas que o observa de forma diferente de todas as vezes. Porque somos diferentes todos os dias. Se na segunda-feira acordamos cheios de energia, e tudo ao nosso redor brilha, no dia seguinte parece que carregamos o mundo às costas, mas temos de trabalhar e manter a rotina do dia anterior. E se ao caminharmos, em vez de olharmos para os pés, observarmos o que nos rodeia? E se as colocarmos no papel? Teríamos tantas e tão belas histórias para contar. 


Rotinismo e figos maduros I
Rotinismo e figos maduros II

Sandra Gonçalves
Edições Humus
Coleção 12catorze


De quando em vez, vagueio pela poesia. Com dificuldade, confesso. Soubesse eu declamar e tudo seria diferente. Completamente descontextualizado, porque as leituras e as escritas assim o permitem, despeço-me como Bernardo Pinto de Almeida o fez em “Adeus em Buenos Aires”, em “A Ciência das Sombras”, edições Relógio D’água: 


É essa a beleza que afinal não suporto:
tanta beleza é injusta.
Desculpa:
vou-me embora.