Ana Tavares
No ano de 2016 numa breve visita a Portugal que incluiu conhecer o Presidente da República (Aníbal Cavaco Silva) na qualidade de emigrante Portuguesa (todos os anos o Presidente da República reúne-se com 30 portugueses que trabalham no estrangeiro), Ana Tavares falou-nos um pouco do seu percurso académico e profissional.
Por que razão optou pelo curso no ISCAL?
Antes de entrar para o ISCAL não sabia o que era um débito e um crédito mas sabia que ia trabalhar para a área financeira. Concluí o bacharelato e o Curso de Estudos Superiores Especializados (CESE) na área de controlo financeiro que incluiu a realização duma tese em “Contabilização de contratos forward”. O CESE era a continuação natural depois do bacharelato e existia alguma competição pois após o bacharelato tinha que se concorrer novamente ao CESE.
Pode falar-nos um pouco do seu percurso académico e profissional?
Não fui uma aluna brilhante, “marrona”... Comecei a trabalhar logo depois do bacharelato, enquanto fazia o CESE, e comecei como muitos jovens do ISCAL: num Gabinete de Contabilidade perto do ISCAL. Trabalhava de dia e ia para as aulas (do CESE) à noite. Depois de terminar o CESE comecei a trabalhar na área de Auditoria. Trabalhei em Portugal durante sete anos e porque sempre tive interesse no Comércio Internacional, mudei-me para Inglaterra onde comecei por trabalhar na farmacêutica Bristol-Myers Squibb, na área de serviços partilhados. Ali, vi diferentes formas de entender e fazer a contabilidade, de acordo com as realidades dos outros países. Apesar de estar baseada em Inglaterra, acabei por estar sempre ligada a projectos que incluíam mais do que um país, e três anos depois de lá estar transferi-me para os EUA onde liderei um projecto de transformação de back office na América Latina. Implementei um centro de serviços partilhados em Buenos Aires, na Argentina. Entretanto recebi um convite para uma empresa global: a Standard & Poor’s 500 que me desafiou a liderar a reestruturação de toda a estrutura de backoffice dos 50 países onde estava presente. Foi um desafio muito interessante pois neste processo de liderança tive de separar as actividades de análise financeira, que eram mais estratégicas e mais perto do centro nervoso da decisão de negócios, para ficarem centralizadas nos EUA. Há cerca de ano e meio aceitei o convite da Canon para desempenhar as funções de controller para as Américas e actualmente, como Vice-Presidente, integro o conselho executivo em Nova Iorque.
Em que medida considera relevante, para o cargo que ocupa actualmente, a formação que teve no ISCAL?
Faço questão de testemunhar que durante toda a minha carreira fora de Portugal já ouvi muitos jovens a dizer que esta área não é interessante ou “sexy”, mas eu sou a prova de que se pode fazer algo de muito interessante sendo contabilista de raiz. Cabe a cada pessoa pegar nas ferramentas que lhe deram, e traçar o seu próprio caminho. Comecei por processos contabilísticos e o conhecimento em serviços partilhados é talvez a skill que, actualmente, mais permite trabalhar em qualquer área e em qualquer parte do mundo.
Que memórias guarda dos seus tempos de aluna no ISCAL?
Sem dúvida, a elevada qualidade do ensino, à qual só dei valor quando saí de Portugal: quando conheci contabilistas de outros países fiquei surpreendida com a técnica que aprendi no ISCAL. Recordo-me também que foi graças ao Professor Francisco Faria que passei a Cálculo Financeiro com boas notas! Considerava aquela uma matéria intragável e foi com este Professor que consegui não só entender tudo aquilo como passar a gostar! Guardei também hábitos saudáveis: ainda hoje no meu local de trabalho, situado no 5º andar de um edifício, faço questão de me deslocar pelas escadas, recordando a particularidade do ISCAL ser um edifício que convive com a verticalidade inerente a estar no centro de Lisboa!
Mensagem para os alunos que estão neste momento a frequentar o ISCAL e que estejam a ler esta entrevista?
Tenham fé, aproveitem as oportunidades e lutem por um caminho, pois do vosso lado têm o facto de o ISCAL fornecer uma educação de grande qualidade, que é equiparável a qualquer educação de qualquer estudante de contabilidade do outro lado do mundo. Devem saber que têm a oportunidade de fazer o que quiserem, não existindo grandes limites, pois estão munidos de grande técnica.
Projectos para o futuro?
Aperfeiçoar-me cada vez mais em projectos de estandardização e melhoria de processos. Além disso, a Canon dá grande importância ao meio em que se insere e também estou envolvida em projectos sociais que me interessam particularmente, por representarem “algo mais” para a vida das pessoas.
Pensa regressar a Portugal?
Para já não está nos planos mas efectivamente a minha função é global e por isso pode ser desempenhada a partir de qualquer ponto do globo.