A leitura como refúgio
Sempre que pego num livro pela primeira vez e me sento para, página a página, descobrir uma nova história, sou invadida por sensações de entusiasmo, curiosidade e expectativa perante as promessas de aventura e emoção que este novo livro anuncia.
O hábito da leitura e o gosto pelos livros acompanham-me desde muito pequena e uma das mais ternas memórias de infância que tenho é, precisamente, a ida à Feira do Livro de Lisboa com os meus pais e irmã: todos os anos, no final de mais um ano letivo, a visita à Feira do Livro anunciava o início do Verão, dos dias de sol e brincadeira e os dois ou três novos livros, escolhidos com total liberdade, eram companheiros preciosos para os três meses das desejadas férias. Desde então que não falho uma Feira do Livro e a cada ano a emoção continua lá - passear entre tantos livros e tantas histórias possíveis continua a acelerar-me o coração e cada livro novo é uma aventura pronta a ser vivida.
Em casa fiz questão de criar um espaço que me permitisse encontrar refúgio dos dias agitados e do desassossego da vida. Ao canto de uma parede forrada a livros, tenho o meu cadeirão azul, onde, iluminada pela luz quente do candeeiro, roubo alguns minutos aos dias compridos e perco-me, confortável, entre as páginas do livro amigo do momento. Encontro nestes momentos, em que estou apenas eu e as personagens do meu livro, um refúgio sagrado que me traz paz e muito conforto.
Gosto particularmente de romances, de mistérios e policiais, pelo que Agatha Christie foi sempre uma importante referência, mas acredito que é importante variar entre géneros literários e conhecer novos autores; desta forma, desde a banda desenha do Astérix e o registo autobiográfico de Becoming, de Michelle Obama, todos são bem-vindos.
Contudo, tenho autores preferidos que mantenho como companhia regular há já muitos anos. Entre estes, quero destacar dois autores de língua inglesa, o britânico David Lodge e o norte-americano Paul Auster. Sempre que possível, tento ler na língua original, o que, neste caso, tem uma evidente vantagem – enquanto me deleito com um novo livro, coleciono novas palavras e conheço novas expressões em língua inglesa; enquanto língua e organismo vivo que é, está em constante evolução, e os seus utilizadores, em contínua aprendizagem.
Changing, Small World ou Deaf Sentence, de David Lodge, estão entre os livros mais divertidos que já li. Contam com a experiência pessoal do autor, professor de literatura inglesa durante vários anos na Universidade de Birmingham, para de forma incrivelmente cómica e conhecedora retratarem os encontros e desencontros que acontecem na vida dos académicos que servem como personagens aos seus livros.
Paul Auster é uma importante referência da literatura norte-americana atual e constitui uma experiência muito diferente. The New York Trilogy, Brooklyn Follies, Sunset Park ou Oracle Night transportam-nos para o universo nova-iorquino e as suas histórias são, como a própria cidade, narrativas fortes, com personagens solitárias e inquietas que nos arrastam, sem alternativa, para a partilha das suas emoções. Este Verão tive como companhia o mais recente livro de Paul Auster, 4 3 2 1, e foi exatamente a experiência deliciosa e complexa que adivinhava, 4 versões de uma mesma pessoa e todas as possibilidades que a vida contém.
Entre as descobertas mais recentes, tenho de referir Rubem Fonseca, autor brasileiro, infelizmente falecido este ano, mas que deixa uma surpreendente obra de ficção policial. O Seminarista é um dos meus preferidos. O protagonista, um assassino profissional, cumpre com os deveres da sua profissão com mesmo desprendimento e desafeto que só esperaríamos encontrar em profissões mais mundana. Somos apanhados desprevenidos a cada página e, por isso, incapazes de largar o livro até ao final. Última sugestão, Daniel Silva e o seu Gabriel Allon. Ao longo de vários livros acompanhamos o operacional israelita que também é restaurador de arte, ou o restaurador de arte que também é operacional israelita, em aventuras pelo mundo que nos mantém em suspenso do princípio ao fim.
Ler é, de facto, um dos grandes prazeres da vida. Ficam as minhas sugestões e a esperança que encontrem nestes, ou noutros livros, os amigos e companheiros que são para mim.